A região de São Mateus do Sul e municípios vizinhos, no sul do Estado, é conhecida como a terra da erva-mate. O reconhecimento oficial ocorreu em setembro do ano passado, quando o Instituto Nacional da Propriedade Industrial (Inpi) entregou o certificado de registro da Indicação de Procedência São Matheus. Na modalidade de Indicação Geográfica (IG), é a primeira do Brasil relacionada à erva-mate. Quase um ano depois, os primeiros resultados começam a surgir.

O presidente da Associação dos Amigos da Erva-Mate de São Mateus do Sul (IG-Mathe), Ronaldo Toppel Filho, explica que o processo é lento, pois a safra da erva-mate é sazonal (as folhas são coletadas de maio a setembro), e que 2018 será o segundo ano sob o regulamento da IG.

“O objetivo é termos um diferencial e a IG é um cartão de visitas para outros mercados. A expectativa é que, com selo, possamos agregar 30% no valor dos produtos, em média”, espera Ronaldo.

Adão Brudnicki Staniszewski, proprietário da ervateira Taquaral, afirma que o processo ainda está no início e que, por conta das boas práticas agrícolas (obrigatórias no regulamento da IG), a quantidade de erva-mate certificada ainda é pequena em relação ao volume total industrializado.

“É cedo para falar em resultados financeiros, mas a erva-mate com o selo da IG alavancou a venda de outros produtos da nossa empresa, por causa das boas práticas”, revela Adão.

Mesmo no início, a ervateira já abriu novas frentes, como o Mercado Municipal de Curitiba. A empresa lançou mão de uma estratégia de marketing, com uma embalagem de meio quilo, com o selo estampado, a R$ 12,00. Para comparação, a ervateira vende o pacote de um quilo de erva-mate não certificada a R$ 7,90.

“É um produto diferenciado e que tem chamado atenção para a nossa região. Mesmo sem a IG, as ervateiras Santa Catarina e do Rio Grande do Sul estão nos procurado, o que inflacionou o preço da erva verde”, completa Adão Staniszewski.

Victor César Silveira, sócio-proprietário da ervateira Baronesa, conta que a Indicação Geográfica propiciou a abertura de novos mercados, não somente com as ervas certificadas, mas também para as não certificadas.

“O pessoal de outras regiões já enxerga a erva-mate de São Mateus do Sul de outra forma. Com o produto certificado, conquistamos novos mercados, como Curitiba. Também fomos procurados por empresa de Caxias do Sul (RS), querendo que embalemos a erva-mate certificada com a marca deles. Estamos em negociação, mas a proposta surgiu em decorrência da IG”, aponta Victor.

Na ervateira, segundo o empresário, a porcentagem de valor agregado na erva-mate certificada está entre 40% e 50% para a venda. “Se vendemos o pacote da erva não certificada a R$ 10,00, a com selo da IG está saindo a R$ 14,00, R$ 15,00. O percentual de produção da erva-mate certifica está perto de 2% do volume total”, completa Victor Silveira.

Importância econômica
A planta, de nome científico Ilex paraguariensis, tem uma grande importância na economia da região. Segundo dados preliminares do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (Seab) do Paraná, o município de Cruz Machado lidera a produção, com 85 mil toneladas, seguido de São Mateus do Sul (67 mil toneladas) e Bituruna (44 mil toneladas). A estimativa para a safra passada é de 534.389,60 toneladas de folha verde, somando R$ 490.468.118,80.

O produtor de erva-mate Helinton Lugarini, de São Mateus do Sul, é associado à IG Mathe e também diretor executivo da Datamatte, empresa que desenvolveu sistema de gerenciamento, controle e rastreabilidade para o setor ervateiro.

“Apenas em São Mateus do Sul são 3.500 produtores de erva-mate. Na economia do município, a erva-mate é a terceira mais importante, atrás da soja e da batata. O Paraná é o maior produtor de erva-mate do Brasil e a nossa região corresponde a 60% da produção no Paraná”, relata o diretor.

O software da Datamatte foi homologado pela IG Mathe e é utilizado pelos associados. “Em um futuro próximo, todos os dados de produção relacionados a erva-mate certificada com a IG estarão registrados com o sistema”, antecipa Helinton. O produtor e diretor acrescenta ainda outro dado comparativo: “existem cerca de 180 mil produtores de erva-mate no Brasil, dez mil deles na região de São Mateus do Sul e cidades vizinhas”.

O registro
O projeto para o reconhecimento da região de São Mateus do Sul como território produtor de erva-mate no Brasil começou em 2014. O grande objetivo foi proteger e valorizar a cadeia produtiva da erva-mate no território. O pedido de registro da Indicação Geográfica São Matheus foi protocolado no INPI em novembro de 2015 e concedido em junho de 2017. A solenidade oficial de recebimento da IG aconteceu no dia 21 de setembro do ano passado, no dia do aniversário de 109 anos do município.

O Sebrae/PR é parceiro desde o início do projeto que culminou com a obtenção da IG. A consultora Alyne Chicocki enfatiza que o reconhecimento com a IG pode transformar toda a cadeia produtiva. “A produção da erva-mate, dentro do processo de Indicação Geográfica, tem regulamento específico, contemplando organização na produção, adequação a normas de qualidade e rastreabilidade. Isso influencia diretamente no desenvolvimento socioeconômico de uma região, impactando na qualidade, do campo ao produto final”, detalha.

A consultora aponta que as características diferenciadas da planta na região devem ser reconhecidas e protegidas. “Existem nichos específicos de mercado, como o de chás especiais, que ainda podem ser muito explorados utilizando a erva-mate”, prevê Alyne.

Exportações
Em 2016, segundo publicação do Instituto Brasileiro de Erva-mate (Ibramate) [Diagnóstico da Cadeia Produtiva da Erva-mate, de janeiro de 2018], as exportações de erva-mate totalizaram US$ 82,3 milhões. Dentre os maiores importadores da erva-mate brasileira no referido ano, destacam-se Uruguai, Estados Unidos, Chile e Alemanha.

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