Além de comemorar e oficializar parcerias da conquista de Indicação Geográfica pelo INPI, participantes foram reforçaram associativismo e profissionalização da produção

O Oeste do Paraná tem o terceiro mel do Brasil com a chancela de Indicação Geográfica (IG) pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). A concessão, na espécie ‘Indicação de Procedência’ (IP), credita qualidade e diferenciação do produto, entretanto, requer padronização de processos e melhoria contínua dos apicultores ligados à Cooperativa Agrofamiliar Solidária dos Apicultores da Costa Oeste do Paraná (Coofamel).

Com o objetivo de continuar os trabalhos de melhoria do mel, cerca de 250 produtores estiveram reunidos em Santa Helena, na última sexta-feira (15), durante as atividades do VII Seminário de Apicultura e Meliponicultura do Oeste do Paraná. Esse foi o primeiro encontro que reuniu os associados da Coofamel após a obtenção do registro, assim, além de comunicar oficialmente a conquista da IG, parceiros reforçaram apoio e oportunizaram a realização de palestras aos produtores.

Segundo o consultor do Sebrae/PR, Emerson Durso, além de qualidade, diferenciação e reconhecimento, a IG demonstra o poder do associativismo. “O associativismo é muito maior do que a comercialização conjunta de um produto. Dificilmente um apicultor sozinho conseguiria chegar a um grupo expressivo de apoiadores. Hoje, por conta dessa força coletiva com a Coofamel e associações de apicultores de alguns municípios, é uma região toda de apicultores que se beneficiam”, destaca.

Além do Sebrae/PR e Coofamel, os apicultores da região contam com o apoio da Universidade Estadual do Oeste do Paraná (Unioeste), Itaipu Binacional e Parque Tecnológico de Itaipu (PTI), Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR), Biolabore, Emater e prefeituras municipais. Na avaliação da professora do curso de Zootecnia da Unioeste, Regina Garcia, o acompanhamento dos apicultores da região desde 2005 tem mostrado resultados muito positivos.

“Acompanhamos desde 2005, auxiliando com pesquisas ou até mesmo na aquisição de equipamentos com recursos do CNPQ e Seti (Secretaria da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior). No processo da IP, por exemplo, alunos da graduação e pós-graduação de Zootecnia ajudaram a fazer pesquisas, análises biológicas e georreferenciamento. Continuaremos compilando esses dados, que podem ajudar em outra conquista junto ao INPI, de Denominação de Origem (DO) do mel produzido no oeste”, explica Regina.

Sergio Angheben, coordenador do Programa Desenvolvimento Rural Sustentável da Itaipu, complementa que essas instituições ajudaram, inclusive, na formação da própria cooperativa. “Além da parte da assistência técnica, os produtores contam, hoje, com uma cooperativa sólida e fortificada por parceiros institucionais. Foi a Itaipu Binacional, especificamente, que auxiliou no processo de estruturação de equipamentos à Coofamel, por meio de parceria entre PTI e BNDES”, reforça.

A Biolabore, Cooperativa de Trabalho e Assistência Técnica do Paraná, também acompanha a evolução da apicultora da região. “Vimos produtores aumentarem de 20 a 40 Kg de mel por colmeia ao ano. É esse avanço que estamos levando como exemplo o Sudoeste do Paraná, ao município de Capanema e entorno. A apicultura é uma atividade preservacionista e sustentável que fortalece a agricultura familiar”, indica Douglas Fernando Kunz, presidente da Biolabore.

Para o prefeito de Santa Helena, Airton Antonio Copatti, o Oeste do Paraná tem sido referência quando se trata de associativismo e a Coofamel é uma das instituições que representam a força da região. “As conquistas vêm dessa união de esforços entre produtores, poder público e instituições privadas que acreditam no trabalho em conjunto. Sabemos que esse precisa ser um trabalho contínuo e, para o município, o incentivo à atividade representa, também, o apoio à sucessão familiar no campo”, enfatiza.

O presidente da Coofamel, Wagner Gazierro, que também é apicultor, salienta que a base da cooperativa foram as associações de apicultores da região. “A Coofamel tem orgulho de fazer parte do setor cooperativista da região. Só estamos aqui pelo envolvimento de todos, desde as associações locais de produtores aos parceiros que nos incentivam a crescer e, é claro, dos cooperados. Nada acontece sem esses atores caminhando juntos”, comenta Gazierro.

Qualificação

Além da repactuação sobre a IG, a programação do Seminário contou com a apresentação da palestra “Juntos somos mais fortes”, com o palestrante João Carlos de Oliveira; “Cooperativismo”, com Jessé Aquino Rodrigues, do Sistema Ocepar; “Meliponicultura”, com Benedito Uczai; apresentações culturais e mostra de equipamentos, insumos e produtos apícolas e melíponas da agricultura familiar e abelhas nativas; e a palestra magna “Profissionalização na Apicultura”, com o especialista Robson Raad.

 

“Ser profissional não significa ser mecanizado. Com técnicas simples, ao alcance de todos, alguns apicultores da Coofamel já conseguiram melhorar a produção no mínimo em 25%. Na apicultura se compra mais do que necessário quando não se sabe o que precisa. O objetivo de profissionalizar a atividade é justamente prepara o apicultor a virar produtor e não um extrativista”, observa Raad que ministra cursos e palestras há dois anos aos produtores da Coofamel.

“Nesses 37 anos na apicultura, você aprende a ‘conversar’ com as abelhas e testar técnicas simples no campo com base em estudos e literatura. Três técnicas simples, que não despendem de alta tecnologia, como a troca da rainha, da cera e a alimentação artificial nas colmeias, já renderam muito resultado mensurável aos apicultores da região. Ainda é preciso progredir, e que todos apliquem o que é aprendido. É um grupo que tende a melhorar cada vez mais”, sinaliza o palestrante.

O Paraná tem duas concessões de mel com IG: na espécie IP, dos apicultores do oeste do Paraná; e na espécie DO, ao mel produzido em Ortigueira, norte do Estado. No sábado, dia seguinte ao VII Seminário de Apicultura e Meliponicultura do Oeste do Paraná, uma comitiva do Mel do Ortigueira esteve na sede da Coofamel, em busca de troca de experiências e gestão cooperativista.

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