Presidente da Tece Arte conta como a união do grupo colocou a atividade num outro patamar

Na comunidade do Limpo Grande, no município mato-grossense de Várzea Grande, na região metropolitana da Capital, uma tradição secular vem sendo passada de mãe para filhas, mas só recentemente se tornou reconhecida, valorizada e começou a trazer retorno financeiro adequado.

As artesãs que tecem redes em teares “herdados” dos indígenas Guanás, da etnia Chané-Guaná, se uniram e criaram a Tece Arte – Associação das Redeiras de Limpo Grande, formada por 55 mulheres.

A presidente Jilaine Maria da Silva, 36 anos, aprendeu o ofício com sua mãe, quando tinha apenas 12 anos. Suas filhas Beatriz e Alice, de 9 e 5 anos, já demonstram interesse em dar continuidade a essa tradição.

Ela conta que muitas redeiras, quando começaram a fazer redes não tinham uma renda fixa e às vezes demoravam meses para vender uma rede, o que levava algumas a desistirem da atividade. “Hoje, com a Associação, elas voltaram a fazer o trabalho. Com apenas um ano, criamos uma página no Instagram, nos unimos ao Sebrae e a divulgação estourou nas redes sociais.

Comercializamos para o Brasil e mundo e isso nos motivou bastante”, conta, acrescentando que as redes sociais facilitaram muito para que as pessoas pudessem conhecer um pouco mais sobre do trabalho delas.

O Sesc compra e revende as redes na sua unidade em Cuiabá, no Arsenal. “Ele é nosso principal comprador, mas nós temos um sonho de criar uma loja virtual no Mercado Livre e na Amazon”, detalha.

Jilaine destaca a relevância do caminho trilhado por elas. “Nossa união foi muito importante porque a nossa cultura estava praticamente extinta. A maioria das mulheres que fazem as redes é daqui da nossa comunidade (Limpo Grande). A gente entendeu que se nos unirmos podemos conseguir muitas coisas”.

Em 2022, conquistaram pela primeira vez uma premiação nacional, o Prêmio Sebrae TOP 100 de Artesanato, a mais importante ação para identificar e premiar as unidades produtoras de artesanato mais competitivas do Brasil. Uma espécie de selo de qualidade, uma chancela do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), atestando que as unidades produtivas selecionadas estão preparadas, em todos os aspectos, para comercializar seus produtos no mercado nacional e até para exportar. Estão aptas para desempenhar um papel de destaque e assumir o protagonismo no segmento do artesanato brasileiro.

Para Jilaine, ter esse reconhecimento nacional chancela a qualidade do trabalho e isso é muito importante. “Repercutiu em nosso Estado e está repercutindo no Brasil. Isso é uma conquista que há anos já deveria ter acontecido, nossa tradição atravessa séculos, mas somente agora está sendo conhecida e valorizada”, constata.

No ano passado, as peças da Tece Arte integraram a Exposição “Casa do Brasil Central, do Cerrado ao Pantanal”, no Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), na Praça Tiradentes, no Rio de Janeiro, de 12 de agosto a 30 de outubro, reunindo peças de mais de 150 artesãos da região Centro-Oeste, compondo um retrato do artesanato dos dois biomas.

Durante o evento, elas ministraram uma oficina que despertou o interesse de bordadeiras, pessoas que trabalham com encadernação, designer de moda e até uma pesquisadora de artesanato Brasileiro.

As redes são o carro-chefe, mas para atender um mercado bastante feminino fazem peças menores como os xales, echarpes, saídas de praia.

Jilaine explica que fazer uma rede engloba várias técnicas – tecelagem propriamente dita, bordado, que não tem avesso, punhos, varanda.

Comercializar os produtos e difundir esta cultura é o propósito da Tece Arte. A prefeitura de Várzea Grande está construindo o Centro Cultural do Limpo Grande, onde irá funcionar um ponto de venda, oficinas e cursos.

Antes mesmo da conclusão, prevista para maio, já estão vendendo na comunidade. Há um ano, recebem turistas que querem conhecer o trabalho e a história das redeiras.

Sobre a rotina e as formas de conciliar a tecelagem com os afazeres domésticos – casa, filhos, maridos, etc – Jilaine brinca: “nós somos mulheres e a gente consegue fazer um monte de coisas ao mesmo tempo. Programamos o nosso dia e separamos um tempo para tecer. Minha mãe acorda cedinho para fazer rede, depois faz uma parada para preparar o almoço e os afazeres da casa e à tarde ela retorna ao tear”, conta de forma divertida.

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